sexta-feira, 26 de agosto de 2016

D.E.U.S.



                           
                                                            


"    Um dia como outro qualquer. Infelizmente mais um dia.
   Já não tinha esperanças de algo bom ou uma simples mudança. A luz batendo na parede do quarto não mais era bela. O canto de céu que via pela janela já não mais tinha formas, muito menos nuvens.
Vestindo a mesma roupa de dias atrás, não me importava com o cheiro pesado que tinha, afinal ninguém se importava. Andando como um fantasma pelos cantos ouvia as vozes assustadas: “Está vendo? É o fim do mundo... Não é nada, deve ser invenção... O que? Nossa será que é um golpe?”, o som do rádio e da televisão se mesclavam. Uma cacofonia que chegava a me incomodar.
   Tomava um copo de café, coçava a cabeça tentando entender aquele pandemônio. As imagens distorcidas que via era uma enorme rocha no meio de uma avenida e um policial dava entrevistas dizendo: “Não há motivos para pânico, estamos cuidando disso...” claramente mentindo, tão apavorado quanto a repórter. Continuava a assistir sem interesse afinal não mudaria a anestesia que sentia. Até que uma criança que não deveria ter mais que 7 anos corria, furando o bloqueio policial e encostava na enorme rocha, um brilho azulado emanava daquele pedregulho e a criança simplesmente sumia.
   Boquiaberto mal conseguia ver as próximas cenas que passavam, uma mãe com mais duas crianças gritando, policiais entrando em confronto, gritos e histeria. Era algo diferente, afinal meu coração estava acelerado, uma vertigem tomava conta de minhas pernas e um pensamento me inundava. Preciso ver. E mais que isso... Tocar.
   Horas depois estava na rua andando. Tudo estava fechado como um feriado menos igrejas e templos, pessoas oravam pedindo perdão de seus pecados. Estranho ver como humanos se comportam ao achar que vão morrer ou o fim está próximo, acham que voltar sua fé para algo irá aliviar tudo que já fizeram. Aquela mulher que batia nos filhos e bebia magicamente se torna uma boa mãe, o homem desonesto se torna virtuoso por confessar, o nojo e preconceito dão lugar ao medo e pavor. Muito conveniente, é como o grande ser que quer foder com todos olhasse e falasse “Opa esses aqui rezaram por mim, então posso pegar leve com eles enquanto como o cú de todos os outros...”. Fico rindo sozinho, não me incomodo por andar tanto, afinal as vozes nunca me deixam sozinho, todas elas cobrando, xingando, ofendendo, lembrando meu passado como se precisasse de vozes para lembrar.
   Na avenida como previsto milhares de pessoas. Como abutres atraídos por carniça ficavam a espreita de informações. O medo era sensível, olhares se perdiam e se encontravam no mesmo ponto, uma enorme rocha fincada no meio da rua tão grande quantos os maiores prédios dela. Sirenes e helicópteros eram audíveis e sinceramente não me importava. Depois de tantos anos ouvindo atrocidades desferidas por pessoas queridas, fracasso em cima de fracasso, azar num mar de coincidências sinceramente eu era indiferente ao mundo real. Apenas andava uma longa linha reta até esse estranho monólito deformado. A cada novo passo pensava no abismo que me encontrava e quantas vezes quis dar um passo a mais, um salto de fé na incerta forma de viver. E novamente a mente pensava em motivos para não o fazer. Medo e angustia, amor, prazer, dor entre outros sentimentos que freiam fazem travar em decisões improváveis. E dessa vez nada parecia funcionar, via pregadores e seus livros gritando, vendedores ou aproveitadores no mesmo tom querendo lucrar. Toalhas estendidas no chão em piqueniques estranhos, góticos rindo enquanto punks bebiam, policiais assustados ligavam para suas famílias pedindo para saírem. E político, esses políticos sempre a esgueirar com suas línguas de verme prometendo o que não sabem ou não conhecem.
   Agora perto, vejo a grandiosidade de algo e minha insignificância perante a esse plano. A rocha a frente era descomunal e emanava poder, não haveria palavras para descrever a sensação sentida. Era como um amor de um abraço longo, daquele que foi dado no passado e até hoje ecoa na lembrança. Como um “eu te amo” guardado na memória e apenas tirado naquele momento de tristeza para confortar das mazelas da vida. Eu continuava a caminhar. O que poderia fazer? Se tudo que amei eu perdi. Um campeão em derrotas e sacrifícios inúteis. Eu pensava em apenas seguir, afinal não doía mais, não sentia mais nada, não era mais necessário ali.
   Eu andava, sentia meus pés trêmulos, a visão por vezes ficava turva e o coração disparado. Sinto mãos tentando me tocar, pequenas e grandes, delicadas e bruscas. Sigo apenas em um andar, sem volta, sem impedimentos, sem receios. Uma linha reta, um pensamento fixo. Se bom ou ruim não sei. Acho que nunca saberei. Apenas tenho que estender minha mão. E é o que faço.
   Sinto meu corpo ir, as vozes se calarem. Sinto paz. Sinto tristeza. Sinto amor. Adeus."

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Ainda sonho...







" Toda vez esse maldito espelho
vejo todos os erros que cometi
aparecendo, surgindo, gritando
o passado se foi
como uma tormenta longa, destrutiva
que varre a vida, toda uma existência
não deve ser assim?
todos têm contas para acertar
débitos para pagar...

Eu vejo o que ninguém vê
sei cada marca, cada tristeza, amargura
todas as trilhas já percorridas
e aquelas que não foram
eu sei que todos têm seus pecados
será que todos precisam perder?
ficar arrastando um cadáver
o resto de suas vidas...

Metade da minha vida
são pesadelos disformes, arrependimentos
outra metade são sonhos belos e lindos
já vivi com mendigos sábios
e convivi com tolos reis
vi cada dia, a cada noite
a verdade é única
o que você merece é consequência
de tudo que você faz
e lembre, nem sempre o mundo é justo...

Veja o que vejo
olhe pelos meus olhos
escute as vozes que me atormentam
sinta o gosto amargo
 de todas minhas lágrimas
e por um dia vista o manto
conselheiro, pai, amigo e irmão
depois e somente depois
me julgue, me ajude, me destrua...

Vamos sonhar ?
sonhe com coisas boas
sonhe, vamos sonhe , sonhe
as vezes sonhos não se realizam

Não me olhe assim
é a pura verdade
nem sempre o mundo é justo
nem sempre o senhor é absoluto
nem sempre o bom vence no fim...

Já vi amantes morrendo secos
tristes e apáticos
rastejando pelos cantos
todos eles morrendo em busca de algo
algo que não viria, não para eles...

Já vi bons homens se perdendo
loucos e insanos
em suas mentes brilhantes
mas tudo acabou
em um dia um simples dia ruim...

Já vi vermes tendo sucesso
amantes cantando
diamantes se rachando
porcos se fartando
bebendo todo amor viciado...

Sinta o que sinto
pele riscada, ardendo, sangrando
veja os fantasmas que me assolam
saboreie tal maldição
cada vez que amei em vão
amei sem ser amado
e por um dia vista o manto
perdedor, assassino, louco e pervertido
depois e somente depois
me julgue, me ajude, me destrua...

Vamos sonhar ?
sonhe com coisas ruins
sonhe, vamos sonhe , sonhe
as vezes pesadelos  se realizam...

Por você continuo
por você eu luto
por você eu sonho
eu realmente sonho
eu apenas sonho
ainda sonho..."

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Não seja rude...


 
" Novamente corro para você
que dia é hoje ?
de segunda a domingo
estou ao seu dispor
com um sorriso bobo nos lábios...

Tenho tantos sonhos
mas parece que as vezes 

nenhum deles 
parece bom demais
ou são apenas sonhos perdidos...

Não seja rude comigo 
hoje não 
escalei tantas montanhas 
matei tantos leões 
enfrentei tantos medos, aqui estou...

Sei que não sou perfeito 
alias o que mais tenho são defeitos
mas tento melhorar 
ser um homem melhor 
quem sabe assim, uma boa escolha...

Tenho tantos sonhos 
somos companheiros 
amantes 
um casal apaixonado 
dois seres se amando loucamente...

Não seja rude comigo 
não dessa vez 
caminhei tantas horas 
estou com tanta sede 
meus pés doem tanto...

Mesmo assim estou aqui sorrindo 
o que peço é isso 
não seja rude 
não me faça sentir idiota 
só quero seguir meu coração... 

Tenho tantos sonhos 
efêmeros
alguns tão belos 
outros tão bobos
meus sonhos, perdidos, apenas sonhos..." 

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Meia-luz Sinuosa...


"  Encontro seu desejo
minha loucura 
meu anseio 
nessa penumbra arqueada...

Suas curvas me encantam
um tolo menino admirando 
as perigosas reentrâncias
convidativas, perigosas, atraentes...

Seu olhar como a de um predador 
sua respiração tensa 
cheia de fome, sede 
língua a passear nos lábios...

Hoje e somente hoje
sou sua presa 
a escolha do cardápio
e no fim gosto de o ser...

Ajoelho diante de tal deusa
senhora de minha vontade 
deusa que oferendo-me 
paz e caos, foco e luxuria...

Leve-me para sua escuridão
consuma esse jovem apaixonado 
guiado por suas mãos
usado por sua libido...

Sou um fiel seguidor 
que se entrega pleno e devoto
ao ser chamado 
seria eu o escravo dessa paixão? desse devaneio...

Escuto no crepúsculo
gemidos, arfares, pedidos de mais 
dedico minha existência a esse momento 
satisfazer aquela que tanto quero, tanto penso...

Sombria curvatura
insana visão que arde em minha mente
sua voz a me chamar, gritar, procurar
nossas longas noites...

Depois de tudo succubus rubra
aqui estou, a sua espera 
venha e me devore, se alimente de mim 
faça o que apenas e somente você consegue...

Na meia-luz te espero
nosso encontro soturno
sinuosa forma de amar 
perdidos nessa noite, e em outras..."