quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Fome soturna...



" Maldita bruxa
Com seus lábios avermelhados
Suas curvas tentadoras
Serpente a sibilar
Petrificar meus muculos
Envolver com suas ancas
Rebolar hipnotizando
O velho lobo
Chapéu rubro a devorar a caça
Cachinhos dourados com seu urso...

Demônio que devora minha vontade
Encobre minha visão
Nubla meu discernimento
Fazendo-me um reles viciado
De seu cheiro, sabor, gemido
Olhar e toque
Pequeno rato sou
Em seu labirinto, procurando
O tesouro que somente você tem...

Devora-me
Usa agora que sou seu
Brinque com sua presa
Felino malicioso
Lembre-se que é bom aproveitar
Logo viro a mesa
E será você a queimar
Implorar, rasgar os sentidos
De tanta vontade...

Calor maldito
Incontrolável fome
Desejo que busca seus lábios
Prove, sinta, enlouqueça como eu
Lambuze seus lábios
Com minha vontade
Meu tesão
Fome...

Estou faminto
O desejo escorre
Tenho luxuria
Venha saciar
Me completar
Estou cheio de desejo
Implore por mais
Rasgue os pudores
Deixe o véu da luxúria nos cobrir
Atiça esse velho
Mostre sua devoção...

Venha dançar menina levada
Não fuja
Não finja
Despertou minha fome
Minha vontade
Quero me saciar
Em seu doce mel
Lambuzar em seu suor
Me cobrir com seus anseios
Seus gemidos
Vamos nos unir
Fazer um banquete com essa
Fome..."

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Quando...




" Quando o olhar é devasso
O sorriso mais santo
Transforma o convide
Provocação tentadora...

Quando o perfume
Mistura com prazer e suor
A cama úmida do mais intenso
Gozo bendito e pecaminoso...

Quando a fome lhe domina
A loucura te consome
Os pensamentos corroem
E o desejo puro, puto, intenso...

Quando os corpos se unem
Enlaçados como animais em cio
O amor se confunde com desejo
Uno em cume e êxtase... 

Quando o gemido surge
De um silencio longo
Um urro que não aguenta e esvai
Sai em pleno ato de luxuria...

Quando o implorar é um pedido
De continuação sem freios
Sem limites
Devoção e entrega límpida...

Quando tudo isso é
Se sente e vive
Fica marcado em corpo, mente e alma
Nunca se esquece, vicia e enlouquece..."

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Pensamento...



" De trás pra frente
Ou apenas no correto
Sinto que esse é o certo
Entrega pura e intensa
Desejo de doce prazer, por você...

Sua voz me encanta
Provocações que me prendem
Tão fácil
Pois em suas garras
Me entrego...

Amor em espirais
Fino âmbar lapidado
Guerreira minha
Conquista minha fera
Única a provar minha fome...

Louco devoção
Ou bela forma de amar
Querer você
Delírio de vida
Ápice sem fim

Febre que me queima
Doce forma de morrer
Em seus braços
Luxuria forma
De me provocar

Que tudo seja eterno
Sentimento tao intenso
Verdadeiro
Prazer único
Succubus rubra...

Que fome de você
Saudades do cheiro
Seu olhar
Intensidade gostosa
Somente você tem..."

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Frágil...


"Sou frágil
Diamante raro
Rubi de Sangue
Âmbar de puro fogo...

Olhe-me
Sinta-me
Deseja-me
Devora-me...

Forma intensa de ser
Olhe para o que tanto quer
Sonhe com minhas curvas
Uma bonequinha de luxo...


Sinta meu gosto
Sorva cada gota
Vicie a cada provar
Enlouqueça...

Sou a luxuria
Carne e osso
Prazer e gozo
Deseje minha devoção...

Desperto sua pior fome
O lobo mau a querer
Me chame
Vou engatinhando, sou uma boa menina...

Lapide use suas mãos firmes
Eduque envolva em suas tramas
Molde essa garota má
Tente encoleirar o animal selvagem...

Cuidado, sou frágil
O melhor que terá
Pior que já provou
Cuidado, vai viciar...

Âmbar que queima e marca
Rubi a enlouquecer 

Diamante a te cortar
Cuidado, sou frágil..."

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Conto 1 - "Onda."




‪#‎Desafioumanodecontos‬

Conto 1 - Janeiro
Andryus McLeood.


“Onda.”


Onda é um pulso energético que se propaga através do espaço ou através de um meio podendo ser líquido, sólido ou gasoso, com uma velocidade definida.

     Estou novamente aqui. Dirigindo no limite do carro, fogos de artificio no horizonte declaram o ano novo. Dia trinta e um termina e não sei ainda o porque estou aqui, quem sou, ou simplesmente para onde vou. Tantas lembranças, tantos acontecimentos que dominam minha mente... Tudo parece mentira, uma ilusão, uma brincadeira de um Deus jocoso contra uma formiguinha. Porém não vai demorar muito, logo perguntarei frente a frente o que "O Todo Poderoso" tem contra mim, o porquê de querer brincar com minha existência dessa maneira.
     Terrível esse último mês, nada faz sentido nessa medíocre vida. Se é que a tenho, se é que realmente é minha. Acordei dia primeiro de dezembro em um luxuoso apartamento no centro da cidade, não me recordava nada antes disso, acredito que devo ter bebido muito ou usado algo muito forte. Pois mesmo forçando a memoria nada vinha, eu lá sentado a beira da cama vendo uma ridícula luminária estilo lava-lamp. Quem realmente compraria algo assim? Tudo organizado, padronizado até... Quadros escolhidos e alinhados, uma estante cheia de livros sobre física, engenharia, química e outros assuntos que não conseguiria pronunciar. No armário roupas de marca, ternos finos, sapatos de várias cores e um para cada ocasião. O único lugar desorganizado era um escritório ou seria melhor chamá-lo de chiqueiro, uma lousa enorme com cálculos e anotações, papeis pelo chão e parede, pedaços de comida e uma infinidade de copos de café. Caminhando naquele labirinto, via desenhos e esquemas de algo como uma maquina futurista ou uma batedeira ultra moderna... Quem realmente eu era? Seria um inventor maluco? Por que tudo era tão organizado menos no trabalho? Não conseguia lembrar de nada...
     Ia ao banheiro e lavava o rosto, sendo sincero, não me reconhecia... Sim, é estranho falar isso, mas devo ser sincero ao menos comigo: não sei quem era o homem que aparecia naquele maldito espelho. Aparentava um homem de meia idade, já com alguns cabelos grisalhos, uma barba longa por fazer, mas de alguma forma, estranha e olhos claros, algo não estava certo... Fora as imagens que via como sonhos, pesadelos em pleno dia, coisas absurdas como se saídas de um filme infantil ou de terror. Voltava ao quarto e via a única coisa que fazia sentido em todo esse pandemônio: um relógio antigo, daqueles de bolso, todo em prata, decorado com desenhos e fios entrelaçados, os ponteiros eram belos e delicados, mas ele era um mistério para mim... Não pelo fato de ser o único objeto que reconhecia, mas a data que ele marcava, todos os calendários vistos até aquele momento marcavam que era dia primeiro de dezembro, porém aquele marcava trinta e um de dezembro e não conseguia ajustá-lo.
     Tentei relaxar, beber mais, ver quem eu era e nada... um fantasma vivo. Numa agenda encontrei uma lista de compromissos e lugares com dinheiro e cartões que podia usar. O nome em todos eles era o mesmo Alexander Balaur, passaporte de viagem e vários esquemas nas paginas. O que mais chamava a atenção era que no meio do mês estava marcado uma reunião ultra importante pois tudo se referia a ela... O que eu era? O que fazia? Perguntas que repetia sem parar, afinal nem a cidade que estava parecia conhecida.
     Saindo pelos corredores além do quarto, via que esse “eu”, Alexander morava em um flat de luxo com serviços de hotel, no centro. Lembro de sair naquele dia e andar pelos arredores procurando respostas, e só encontrava mais dúvidas. Em uma banca comprava o jornal e lia as matérias principais: guerras, tráfico, falta de água, segurança e serviços básicos. Tentava conversar com algumas pessoas, mas me parecia errado, era como tentar me encaixar em um tempo e um espaço não pertencentes a mim. Fiquei no apartamento sozinho pensando e não me encontrando. Fui no primeiro compromisso, um jantar com engenheiros do governo local, observei e escutei mais do que falei... O que falei estava escrito na agenda, cada vírgula era repetida, e era aplaudido. E não tinha noção de tais assuntos. Alguns pareciam me conhecer, mas não tinham intimidade. Eu parecia ser um homem recluso e muito inteligente. Voltando de madrugada para o apartamento, enquanto me despia, vi que era dia dois, porém o relógio marcava dia trinta... Estava enlouquecendo aos poucos e parecia ser preciso fazer algo para entender tudo ou estaria bem encrencado.
     Senhor Balaur, ou eu, era um homem misterioso. Nos dias seguintes fui atrás de informações para ao menos tentar encaixar peças nesse quebra-cabeça. Formado com honra em física quântica, engenheiro em “N” áreas com especializações, bolsista em faculdades pelo mundo, participante de grupos de estudo sobre tempo e espaço e mistérios do universo. Atualmente se especializando em mecânica quântica com trabalhos associados a uma empresa chamada Neclare Armata. Nada mais descobri, sobre o que era ou qual a verdade.
     A cada nova reunião, jantar ou almoço, mais dúvidas pairavam na minha cabeça, em determinado momento acreditei, por mais estranho que me fosse a ideia, que era verdade, eu era Alexander Balaur professor, pesquisador e outras coisas que nem lembrava para listar. Havia um problema: teria que me aposentar no dia trinta e um de dezembro, pois a agenda terminava suas notas aí e não poderia mentir para sempre. Os dias corriam no calendário e no relógio apenas regrediam, parecia que a cada dia tinha menos tempo para me achar...Encontrar a verdade...
     Lembro como hoje da reunião especial, eu mal sabia quem eu era mas entrei num complexo de alta tecnologia com corredores brancos, enormes salões com experiências que pareciam sair de um filme de ficção cientifica. Braços e pernas biônicas, olhos artificiais, microscópios ultra potentes, emissores de onda capazes de destruir barreiras, aceleradores de partículas. Apenas ficava repetindo " Sou Alexander Balaur... Sou Alexander Balaur... Sou um louco demente que não sabe quem é metido num laboratório de pessoas loucas...", finalmente conheci o senhor Neclare, um homem velho e quando digo velho é do tipo em que rugas o deformam, cabelos finos e ralos, mãos tremulas, porém ágeis, brincavam com uma moeda de prata girando entre os dedos e apertando conforme passava pelo polegar, olhos que me devoravam como se lessem minha alma sabendo que era um ursupador desmemoriado.
     - Muito bem senhor Balaur, vejo que chegou vivo até o dia de hoje... - Ele salivava e limpava com as costas da mão, era uma figura que também não combinava: seus olhos eram vivos mas a figura grotescamente idosa me parecia um retrato de Dorian Gray falante. - Difícil viver nos dias de hoje não é mesmo senhor Balaur, é como se fossemos pessoas diferentes... Não encaixadas nesse meio... - Ele ria tossindo e arfando, achei que ele morreria naquele momento, na minha frente, mas se recuperava e voltava a falar... - Somos todos marionetes, fantoches de carne e osso e sua pesquisa mostrará isso. Estou sendo indelicado, não é mesmo? - De novo limpava a baba que acumulava em seu lábio inferior.
     - Senhor Neclare eu... - Tentava falar algo, porém era interrompido com uma mão em meu ombro. Uma bela jovem de social, loira, alta, com um perfume delicioso e de óculos azuis fazia o gesto com o dedo indicador nos lábios gentilmente mandando eu não falar nada. Ela apontava para minha pasta onde a pesquisa estava feita. Tinha lido e relido os textos e cálculos lá contidos, mas não tinha entendido absolutamente nada. Sem o que fazer, entreguei a pasta. A jovem agradecia piscando e caminhava para o outro lado da mesa.
     - Tem coisas nessa existência, senhor Balaur, que sou tão ignorante quanto o senhor...- Tinha um tom de provocação na frase do idoso, parecia querer alguma reação que não conseguiria provocar... - Muito bem, resumidamente sua pesquisa propõe que a vida, a consciência, aquilo que nos move e pode ser apelidada de alma, espirito, chi, etc... - Ele fazia uma longa pausa como se o ar faltasse em toda sala... - Pode ser transferida, já que essencialmente ela é formada por um tipo de energia. Assim, essa energia poderia ser colocada em um lugar no espaço. E dependendo de como for aplicada a teoria, pode ser catapultada para um receptor em um intervalo de tempo... - Ele ria sozinho tossindo dessa vez se recuperando muito tempo depois... enquanto ele ainda arfava sem ar a loira silenciosamente servia um café e sorria me olhando como se fosse um menino diante a uma professora de língua estrangeira...
     Eu tomava o café observando em volta, posso dizer que o velho tinha bom gosto, peças antigas como vasos e quadros, interagindo com computadores e telões que passavam informações de todo mundo. Ouvia ao longe dois homens rindo comemorando que conseguiram estabilizar a energia criada em pleno vácuo, quando começava a entender o que eles falavam o velho homem me chamava novamente.
     - Como dizia, assim, com o receptor correto “qualquer um" poderia ser levado a um lugar e a uma época pré-determinada por um espaço de tempo, afinal estamos usurpando leis básicas de existência, ninguém foge muito tempo da verdade não é mesmo ? Mas o senhor deve saber de tudo isso não é mesmo? - Não sei como ele sabia, mas eu tinha certeza de que ele sabia que eu não era eu... Loucura pensar nisso, porém fazia todo o sentido... Eu não era eu, não tinha memórias de antes do dia primeiro, tinha um relógio que contava os dias regredindo, estava envolvido até a cabeça com um projeto insano... Mas quem realmente eu era? Por que eu voltaria especificamente para o criador da teoria que me permitiria fazer o que faço? Não fazia sentido...
     - Senhor Balaur pode se retirar agora. - A bela jovem de óculos falava num tom que arriscaria supor ser propositalmente sensual. - Por favor siga, pelo corredor sul até a saída. - Ela tocava meu rosto como um carinho ou uma despedida eterna. - Lembre-se, Alexander, todos nós cumprimos objetivos específicos e depois disso não servimos para mais nada, não prolongue algo que pode ser um sofrimento desnecessário. - Ela olhava em meus olhos, não sei se era meu desejo ou era o dela, contudo quase nos beijamos, porém ela apenas sorria e continuava. - Siga, meu caro amigo, a onda se mantém ativa enquanto se movimenta, e cuidado pois sempre há juízes e executores quando quebramos as regras.
     Ela saía me deixando apenas com seu perfume, nunca mais a vi, muito menos o velho Neclare... Tinha mais dúvidas e nada se encaixava, representei todos os dias seguintes como um manequim de carne e osso... Um teatro certamente macabro, pois cada vez que pensava que a teoria de energia poderia estar certa me sentia sujo, incomodado com tudo aquilo.
     Perto do natal, lá estava eu caminhando pela cidade, o relógio marcava exatamente dia dez de dezembro, não tinha mais ideias quando um bêbado se colocou na minha frente pedindo um trocado, porém, conforme me viu, gritou e saiu correndo. Bom, devo admitir que não era o ser mais bonito do mundo, mas aquela reação era muito estranha até mesmo para meu último mês. Evidente que como um demente corri atrás daquele mendigo, que mais parecia um maratonista, o que quer que o tenha assustado foi forte o suficiente para ele ficar quase um quarteirão à minha frente. Por sorte ou destino, depois de algumas quadras correndo o vi num beco caído.
     - Ok... Ok... Agora podemos parar de brincar de gato e rato, o que aconteceu? Você me conhece? O que eu te fiz para você fugir? - Coloquei as mãos nos ombros do homem, mas ele parecia em choque, tive que dar um tapa no rosto dele, logo ele me olhava assustado em um espanhol arrastado dizia "DIABO! eu o vi morrer, você bateu o carro... Eu vi seu corpo. DEMONIO!". - Agora eu ficava sem palavras, o homem saia de minhas mãos e corria, mas não por muito tempo. Perto do final do beco, vi como um homem alto, devia ter dois metros e meio, de social preto e chapéu de gangster pegou o mendigo, ergueu-o com extrema facilidade e foi quando o pior aconteceu: o homem alto inclinou o rosto emitindo um som agudo que quase me derrubava, enquanto via claramente uma luminosidade sair do pobre coitado e ser absorvido pelo rosto do gigante.
     Tudo girava, meu estomago estava embrulhado, iria desmaiar e não queria ser o próximo a fazer parte do banquete do homem alto. Usei o resto de minhas forças caminhei para fora do beco, passava a mão em minha testa que sangrava como se tivesse recebido um golpe forte. Rapidamente peguei um taxi e saí, ninguém mais parecia ter visto. Agora tudo se complicava e comecei a pensar : “será que Alexander Balaur estava morto e eu voltei apenas para cumprir a agenda? Seria eu tão dispensável para ser jogado em alguém morto só para entregar papéis?” era loucura... Sentia que estava enlouquecendo aos poucos.
     No dia seguinte, ia para os lugares marcados preocupado, vendo se o homem alto não me perseguia. Tive a ideia de voltar para os lugares que visitei, inclusive o laboratório que estava "fechado para reforma" senti como se tivesse levado educadamente um chute no meio do traseiro. Era natal e a cidade estava estranhamente vazia. Eu tentei tudo. É vergonhoso admitir isso, mas estava sem respostas. Revirei o flat do homem que eu habitava, nada. Bebi até cair no chão e vomitar. Tentei quebrar todos os espelhos e andar pelado pelos corredores e a única coisa que aconteceu foi uma advertência por barulho depois das onze da noite. E o que mais poderia fazer ? Preso dentro de alguém já morto, afinal não teria outra explicação para tudo aquilo e mesmo se encontrasse não saberia mais o que é verdade.
     Faltando dois dias para o ano novo, consequentemente dois dias para o dia um no relógio que era a única coisa verdadeiramente minha ou que ao menos certamente não pertencia a Alexander Balaur decidi fazer o que me restava: pular do prédio. Se fosse realmente um louco, não faria diferença. Quando estava prestes a me jogar, alguém bateu à porta. "Serviço de quarto!" Pensei duas vezes antes de atender, porém novamente batiam na porta e alertaram "Senhor é muito importante, serviço de quarto!!"... caminhei até a porta e a abri esperando o pior. Um rapaz jovem com o uniforme de empregos do flat carregava um buque de rosas brancas e uma única vermelha no meio... "Desculpe senhor tive um contratempo, com os cumprimentos do senhor Neclare. Pode assinar o papel?"… Entregava o papel que eu assinei, estranhando tudo aquilo e logo saí apressado. O buque era normal, mas o perfume era da jovem secretaria de Senhor Neclare, e tive certeza quando vi um bilhete escrito nele "Sinto muito por todos os problemas. Infelizmente não podemos te ajudar mais que isso. Caso queira dar o próximo passo e entender a acústica que move o mundo exatamente as vinte horas e quarenta minutos do dia um saia de seu quarto, corra como nunca correu vá para os braços do que realmente quer".
     Lá eu era um louco seguindo outros malucos, mas não tinha opções. Deduzi que dia primeiro seria o do relógio, portanto no dia trinta e um, faltando um minuto do horário dito, lá estava eu apenas com as roupas do começo de tudo, o relógio e preparado para tudo, ou quase. Não sabia na realidade o que poderia acontecer, portanto antes tinha arrumado o quarto da mesma maneira que encontrei, deixei a agenda da mesma maneira que a peguei, com dinheiro e cartões, na pior das hipóteses eu agradeceria essas preocupações.     Quando deu o horário, abri a porta, meus ouvidos doeram no mesmo segundo, olhei para o lado e na outra ponta do corredor, vi o homem alto e comecei a notar seu rosto. O que posso dizer? Ele não o tinha. Havia apenas um borrão disforme como o grito constante de eterno pavor que emitia. Ao me ver ele se apoiava nas paredes do corredor e caminhava com dificuldade por ser grande demais. O corpo dele era monstruoso e às vezes tremia todo como uma convulsão ou um erro na frequência. Evidentemente não fiquei parado observando, repetia: “não serei seu jantar”. 
     Instintivamente, corria para o lado contrário e ia para as escadas de emergência, descia saltando os degraus. Era inaceitável, depois de tudo que vivi esse mês, que eu ainda não conseguisse entender nem um terço do que estava acontecendo. Uma corrida cega para tentar achar respostas. Ouvia meu amigo alto gritar novamente, dessa vez os corrimões tremiam, parecia um terremoto, faltava ainda dois andares até a entrada dos flats, mas não tinha escolha continuava. No último andar, eu não conseguia aguentar e tropeçava e rolava pela escada, ouvia o braço deslocando e o ardor logo se transformando em dor pura. Não podia parar e corria para saída. Trombava com o mensageiro que tinha me entregado as flores, ele praguejava xingamentos e me olhava "Déjà vu, novamente o senhor correndo pelo saguão... "Não escutava mais nada, atravessava a porta e lá encontrava um carro esporte. Bom, se é para fugir, ou morrer, de um monstro alto, que seja com estilo, roubando o carro, acelerava sem olhar para nenhum lugar... "Senhor por favor indique o destino..." Eu estranhava, o braço ardia, mal conseguia trocar as marchas... " senhor por favor indique o destino..." a voz feminina robótica novamente pedia, o GPS ligado, sem pensar gritava.
     - Retorne ao ponto de partida!!! Ela prontamente dizia "Destino traçado, faça uma boa viagem." Após isso o radio ligava e um rock começava a tocar. Seguia as instruções do GPS até sair da cidade e cair em uma rodovia onde poderia acelerar.
     Agora com os fogos brilhando anunciando o novo ano vejo meu destino perto. Sou um homem passado, sem futuro, sem rosto apenas com a certeza que devo encontrar algo... Algo que valha a pena, não apenas um fantoche para entregar uma porcaria de agenda. Quero algo mais.
     Nesse último segundo vi no meio da estrada e juro que ele estava sorrindo, o homem alto. Estava com as roupas em farrapos, seu chapéu completamente torto, ele abria os braços e iria ficar no meu caminho à minha direita, o fim da estrada e um penhasco. Conseguia ouvir o mar, como é bom o mar, o homem alto grita, mas não me acerta já tinha girado o volante e o carro caia pelo penhasco, não sentia mais meu corpo, estava leve e agora parecia certo. Apertava o relógio contra meu peito e sorria, seus ponteiros chegavam ao zero. O corpo perdia peso e o ar assobiava alto, um brilho intenso tomava conta de tudo. Devo ir entender a acústica do mundo, devo continuar a seguir e entrar na onda e descobrir tudo, a verdade... Ou quem é a verdade...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Escolha...



" Minha cria
Doce pequena
Menina safada
Gata a miar...

Brinque com o novelo
Sorria e ronrone
Corra por ai
Se jogue nos meus pés...

Feliz role pela cama
Arranhe com ternura
Olhe curiosa
Deseja seu dono...

Faça manha
Indo e vindo
Prove todo esse velho
Que te cria tão bem...

Coce as orelhas
Se diverta com seu brinquedo
Balance a cauda
Que levada...

Empine e mantenha
Sinta os cordões 
A guia apertada
Seu corpo todo queimar...

Em minha trama
Vou te prender
Sentirá meus toques
Brincará em meu jogos...

Prendo,cultivo, moldo
Abuso, trato, busco limite
Sinto seu sabor e sua vontade
Sinta meu querer e minha fome...

Felina provocante
Venha
Peça carinho
Tome seu leite...

Olhe para os lados
Com jeito safado
Venha até mim
Conquiste seu espaço...

Durma tranquila minha gata
Abrace menina safada
Beije me doce pequena 
Me tenha minha cria...

Cuido
Acolho
Desejo
Possuo... "


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Não me sinto hoje . . .


" Não me sinto assimNão estou mal... 
Apenas não estou vendo
  as maravilhas da vida... 
Como um cego 
sem ver as verdades... 

Não posso lamentar
Nem reclamar
Muito menos me arrepender
Apenas devo continuar...

Sentir algo melhor
A musica a tocar
Uma nova forma de ganhar
Mesmo derrotado como sempre...

Hoje pode ser um novo dia
Ou um dia como qualquer outro
Posso ser o grande vencedor
Ou o lixo de sempre...


O que adianta ?
Ganhar ou perder
Ser o melhor ou o pior 

Continuarei vivo, sofrendo, dia após dia...

Tento me convencer
Sou um bom homem
Merecedor do melhor
As dificuldades sumiram...

Quantos dias ruins são necessários
 para que um bom homem desista ?
Quantas quedas são necessárias
 para que não se levante mais ?
Quantas derrotas são contadas 

 para convencer o mau jogador?
Quantos cortes são necessários
 para que a dor acabe ? 


Dèjá-vu amor
Sente  e vamos beber
Nos perder nesses copos
Traga mais gelo, a noite é tão curta...

Não sei se sou um bom homem
Muito menos se valho a pena
Sempre pesado, trocado, amargado
Sempre com essas sombras a rodear...

Vamos combinar pequena 

Apague a luz
Feche as cortinas
Por essa vida já basta de tanta derrota... 


Vamos fume comigo
Se sirva com minha melhor bebida
Dias difíceis são sempre complicados
O que me mata que todos são assim...


Pequena não me sinto hoje
Um vazio tão forte
Nem calor e muito menos frio
Apenas um nada... Um nada sem vida

Quem sabe é a ultima dança ?
O ultimo canto do pássaro ?
A ultima caçada desse velho lobo...
... Que seja a melhor,
 quem sabe um dia não tão ruim..."

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Sedutora...


9 musas...



" Mulher sedutora
Doma com a voz
Me prende e amarra
Doces palavras
Safados termos
Minha Calíope
Sussurre ofensas entre elogios
Verdades declarada

Imundas e belas...

Grite e gema
Mie e agrade
Arranhe e contorça
Deixe todos avisados
Que sou seu, unicamente seu
Minha Clio em êxtase
Proclamando amores
Proferindo xingamentos

Lábios mordidos, doce gozo...

Toque e acaricie
Contorne e retome
Em meu leito
Pose de minha vontade
Domadora de minha fome
Agradável Erato
Amável e romântica
Em suas juras adentro o labirinto

Esperanças tolas, tão vãs...

Meu prazer perdido
Minha Succubus Rubra
Diamante belo
Rubi de sangue enlouquecedor

Entorpece meus sentidos
Único prazer
Euterpe que atiça o monstro
Desperta meu pior
O lago mais fundo, tormenta imoral...


Meu passado em versos
Fantasmas vivos
Venha me visitar Melpômene
Trame meus erros
Ostente meus fracassos
Quantos desejos, quebrados
Quantos sonhos, afogados em mim
Oportunidades cuspidas 

Negrume sujo em minha vida

Em seu terço
Dadiva de pecados
Encontre minha fome, fonte
Repetição, angustia, dor cheia de prazer
Reze Polímnia
Em seu sacro pensamento
Em sua oração profana
Mãos a dedilhar
Momento solitário, menina e mulher... 


Me faça sorrir
Minha doce amada
Querer que não desaparece
Pensamento antigo
Lembrança encontrada
Tália de meus momentos tristes
Magica a conseguir
Arrancar um sorriso
Mesmo que único...


Em um belo strip
Me seduza
Deixe o homem caído
Um menino em seu salto
Rebole, requebre, olhe
Sue e ande
Cabelos em giros
Terpsícore dançando
Insana vertente de querer...

Meu tudo
Você minha fome
A caça desse velho lobo
Dono a possuir
E professor a ensinar
Um bom homem
Você é meu tudo, como Urânia
Celestial
Minha vontade, meu pecado, pensamento..."