sexta-feira, 5 de março de 2010

Luares Vermelhos




Respiro fundo, acordo, meus olhos se abrem.
Almofadas, travesseiros, lençóis, cobertores.
Levanto pesadamente, meus músculos doem.
Olho pela janela, vejo a Lua, caminho até a porta.

Meus pés se arrastam, ecos, corredor longo...
Caminho, respiro, vejo relógios, mesas, vasos, tapetes.
Tropeço, me apoio em uma mesa, um cristal cai.
Minha mão lenta não evita... o cristal cai, me corta.

Sou humano? Sou perfeito ou imperfeito?
Meu sangue, dói o corte, me sinto tonto.
Levanto, pego um pano estanco meu sangue.
Chão marcado, tapete sujo, cristal quebrado.

Continuo a andar, dói, músculos, o corte, minha mente.
Salas e mais salas. Onde esta a saída?
Entro em um quarto, belo menino dorme.
Meu menino, meu filho, dorme tranqüilo, continuo a andar.

Ecos no corredor, sons, águas caem, mas o céu esta limpo.
Sigo os sons, saiu na fonte.
Linda, límpida, água, estatua, flores, cheiro de canela.
Dois anjos, dois demônios, uma batalha e um desejo.

Canela, minha esposa, minha amada.
Onde? Escuto um sorriso solto, faz séculos que não o escuto.
Uma respiração, tão bela, tão suave, tão serena.
Olho, sua beleza, seus olhos, as águas, meu eterno amor.

A Lua esta avermelhada, tão bela.
Sinto sua mão em meu rosto, seus dedos em meus cabelos.
A outra busca meu ferimento, arde, mas seu toque é suave.
Quase perco a consciência, sinto o chão, olhos em seus olhos cor do amanhecer.

Ela diz “Se cuide, seu bobo”.
Eu respondo “Você não estava do meu lado, me preocupo”.
Ela sorri “A Lua está linda, quis lembrar minha infância”.
Murmuro “Você é linda, sinto sua falta”.

Um choro, uma criança, meu filho.
Minha esposa corre.
Eu seguro seu braço, um segundo que é uma vida.
Um beijo, “corre eu já vou”, digo empurrando seu corpo.

Olho em volta, sinto um ar frio.
Um rosto nas arvores, um brilho sem luz.
Chamo “Jade”, nada, “ Eu sei que esta ai”. Nada.
Respiro, sinto seu perfume, sinto seu toque sem tocar-me.

Ela foge, não deixa rastros, sem lembranças.
Rogo que minha mais amada esteja protegida.
Volto a caminhar, passo pelas portas de madeira.
Corredores escuros, vento frio, sons, sussurros.

Vou para meu quarto, passo pelo quarto de meu filho ninguém.
Continuo a caminhar, sigo em frente, até meu quarto.
Meu filho dorme, minha esposa o protege e o acalma.
Hoje perdi minha cama, mas ganhei o sorriso dela.
Espero que sempre tenha luares avermelhados.

Um comentário:

  1. me encanta tuas palavras...

    vim ler-te
    e hj não saio em silêncio!!!


    ((Estarei sempre por aqui))
    Um beijo (Nany)

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